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Na Encruza reúne talentos locais e nacionais em um dia de música e cultura urbana no DF

Situado na área central de Brasília, o espaço No Setor (Quadra 01 do Setor Comercial Sul) reuniu no último sábado (14) talentos que emergem tanto a âmbito local quanto a âmbito nacional para um dia de muito rap, capoeira, conscientização, música negra universal, atividades culturais, diversidade e lazer.

Na Encruza reúne talentos locais e nacionais em um dia de música e cultura urbana no DF
Na Encruza reúne talentos locais e nacionais em um dia de música e cultura urbana no DF (Foto: Reprodução)

O festival Na Encruza é uma realização do Eletrolivre, um Hub de artistas que promove, movimenta e valoriza a cultura de rua e a música popular mundial, em parceira com o No Setor e apoio da rádio West Side.

O evento ocorreu no último sábado (14/06), das 09h às 18h, e contou com apresentação dos artistas Ludi Um, Ritual Sonoro, MC Sorte, CAOS, Dogue Wize, Black Diamond, Juan Parada e Paula do Vale, do Eletrolivre (coletivo formado também pelos artistas Ludi Um e Marcus Finin).

Abertura do Festival

O Na Encruza teve início com a realização de um café da manhã oferecido para os convidados, artistas e para toda a comunidade, com foco nas pessoas em situação de vulnerabilidade, público itinerante e presente na área central de Brasília.

Ancestralidade, resistência, dança, cultura e memória viva

Logo após o café da manhã, foi iniciada uma oficina de capoeira, que contou com a participação e presença do público e também da população em situação de rua e de vulnerabilidade.

O professor Espectroman, do grupo de capoeira Ginga Ativa falou sobre a função social e ancestral da capoeira e sobre o que ela representa no evento, que reúne diversas manifestações da cultura negra universal.

“A Capoeira é muito mais do que música ou dança. Ela tem ritmo, sim, mas carrega a força de um povo que resistiu. É luta. Luta real, feita de história, corpo e ancestralidade. E é justamente essa energia de resistência e construção coletiva que esse lugar está precisando. O esporte tem o poder de mudar destinos. Ele acolhe, orienta, cria oportunidades onde antes havia apenas vulnerabilidade”, afirma Espectroman.

Foto: Marcos Camargo 

Segundo ele, a capoeira contribui pra o fortalecimento da cultura negra e também para o resgate das pessoas em situação de vulnerabilidade, assim como para a ocupação, preservação e revitalização dos espaços públicos.

“A rua clama por caminhos possíveis, por alternativas que respeitem a identidade do povo preto e ampliem suas perspectivas. A Capoeira é uma dessas possibilidades. Não é só parte da história, é o presente ativo e ainda em construção. Com respeito às raízes, às origens, podemos construir um futuro onde ninguém fique para trás. Onde um fortalece o outro. Onde o giro do corpo também seja o giro da vida”, conclui.

Nordeste e Música Popular Universal representados no evento

A festival seguiu representado por Djs, que apresentaram um repertório variado, tocando rap, samba, funk, reggae entre outros gêneros mundialmente reconhecidos da música negra.

Em seguida, o artista Juan Parada tocou seu repertório próprio de música popular universal, enquanto Aline do Vale tocou música popular com sotaque nordestino e Marcos Finin música popular universal.


Foto: Marcos Camargo 

"A minha participação no evento Na Encruza foi importantíssima para nos relembrar como é estar nesse bioma urbano, as possibilidades e as questões urbanas que ele traz. Foi muito significativo para relembrar todo esse processo”, afirma Juan Parada. 

Os meus próximos trabalhos falam sobre a dicotomia, a oposição entre o mundo natural e o mundo urbano, da cidade. Eu desenvolvi o projeto inspirado em Taguatinga (DF), mas refletindo sobre globalização, sobre o papel da cidade, sobre o bioma urbano e o bioma natural, e sobre essa vivência de criar a cidade mas desejar se refugiar no mato”, conclui o artista.


Foto: Marcos Camargo 

Marcus Finin também resume a sua apresentação e o trabalho apresentado ao público.

"O meu trabalho carrega uma mensagem profunda de resistência, ancestralidade e reconexão com a essência transformadora da música. Como neto de Julinho do Samba, um dos fundadores da ARUC (Associação Recreativa Unidos do Cruzeiro -DF) e militante cultural em Brasília, cresci vendo a música como uma ferramenta de luta e pertencimento, principalmente para as comunidades invisibilizadas”, afirma Marcus Finin.

“O que levei ao Na Encruza foram composições autorais que transitam pela música popular universal, com influência dos Orixás, da negritude, do samba de terreiro, com críticas sociais marcadas em busca de mais voz para o povo preto”, explica o artista, falando sobre o conteúdo do trabalho apresentado.

“Diferentemente do que se vê hoje no mainstream, onde as letras muitas vezes reforçam o consumo de drogas e álcool, o sexo, a ostentação e a alienação, minha música busca tocar o coração de quem escuta, principalmente de quem já vive à margem. No espaço No Setor, tive a oportunidade de cantar para pessoas em situação de rua, muitos em uso de substâncias como crack e cocaína, e entendo isso não como uma “apresentação artística”, mas como uma entrega espiritual e política. A arte, quando é sincera, liberta. E, naquele momento, o canto virou oração, a batida virou abraço, e a mensagem foi direto pra encruzilhada onde o povo resiste”, sintetizou Marcus Finin, concluindo:

“É urgente que mais artistas se comprometam com a verdade da rua, com a dor do povo e com a potência da cultura popular. A música, quando usada com responsabilidade, não só embala o corpo, mas desperta a alma. E foi isso que levei ao Na Encruza: um som que escuta, um canto que acolhe, uma presença que denuncia... E anuncia”.

Expresso Rua


Foto: Marcos Camargo

E a festa seguiu com a realização do Expresso Rua, que consiste na abertura do microfone e do palco para apresentações da comunidade presente, projetando e incentivando os artistas independentes e a manifestação artística e cultural.

Nesse momento, a população em situação de vulnerabilidade pode expressar suas dores e anseios, manifestando o pensamento e celebrando a liberdade de expressão por meio da arte.

Rap e hip-hop com CAOS, Dogue Wize & Black Diamond


Foto: Marcos Camargo 

O rap e o hip-hop estiveram fortemente representados no evento com os artistas CAOS, Dogue Wize e Black Diamond, que apresentaram repertórios autorais e movimentaram o público.

“O rap e o hip-hop são algumas das essências da manifestação do pensamento e da expressão cultural negra, da opinião crítica, do diálogo consciente, abordando e debatendo temas e conceitos que englobam liberdade, igualdade social e econômica, respeito humano, superação das dificuldades e adversidades da vida”, afirma CAOS, que lançará no segundo semestre o single "Fumaça pra Atmosfera", como parte do EP "Eclipse, O Brilho da Estrela Negra", com lançamento previsto para o fim do ano.

Segundo o artista, o EP aborda temas como superação econômica e social, evolução do pensamento, elevação espiritual, ancestralidade, cultura e conceitos como a busca e o resgate da excelência negra.


Foto: Marcos Camargo 

"Eu canto sobre as vitórias e as derrotas da vida, observadas pela ótica de pertencerem a um processo de preparação para um propósito maior que busca a evolução do pensamento em prol da tão sonhada igualdade humana e entre todos os seres, para o equilíbrio natural que, em minha visão, é o caminho da luz no fim do túnel”, afirma CAOS, antecipando à rádio West Side o conteúdo e as mensagens do seu EP.

“O rap e o hip-hop são a minha essência e algumas das marcas de guerra que viraram tatuagens e paineis de grafitti na pele e nos muros da história. São algumas das heranças da vivência, da cultura e da excelência negra”, afirma o artista emergente, que convidou para participação especial no evento os rappers Dogue Wize e Black Diamond.

“São dois artistas incríveis, que têm um trabalho admirável e reconhecido, e que fazem parte do meu círculo de amizades pessoais, assim como o Ludi Um, a Sorte MC e o pessoal do Ritual Sonoro. Um salve a todos vocês e muito obrigado pela oportunidade e convite para somar e fazer parte desse movimento e apresentar o nosso trabalho”, finalizou CAOS.

Foto: Marcos Camargo 

Sorte MC e Ritual Sonoro sempre ampliando a vibração sonora, física e espiritual

O evento seguiu representado pela Sorte MC, que cantou músicas autorais e um trabalho admirado por todos os presentes.

“O meu trabalho tem a intenção de abrir a mente e o coração das pessoas, trazer consciência e conexão” afirma Sorte MC, destacando os seus trabalhos de maior destaque e expressão.

“O meu foco, no momento, é a parceria com o (Yuri) Pleno em " O medo é o contrário do amor", faixa que lançamos juntos e esse ano lanço o álbum completo, com várias parcerias, incluindo "As Ervas", destaca a MC.

Em seguida, também subiu ao palco o Ritual Sonoro, projeto formado por Yuri Pleno e Erik Schnabel que reproduz a essência do Dancehall, raggamuffin e da cultura de rua representada pelas festas e paredões de som jamaicanos e hoje, universais.


Foto: Marcos Camargo 

"Propagamos a mensagem da união, honrando as complexidades que giram em torno do tema. Nosso show é fruto de vivências, pesquisas e reflexões em torno da cultura soundsystem, do hip-hop e suas raízes", afirma Erik Schnabel, do Ritual Sonoro.

"Evocamos a Luta e a festa, buscamos uma paz consciente e não alienante.  Nossa postura é de enfrentamento a qualquer tipo de opressão e preconceito e nossas letras são manifestos no contexto de Guerrilha Cultural, onde a armas são o 'mic' (microfone) e as caixas de som", completou Yuri Pleno, antecipando que o próximo EP do Ritual Sonoro terá 05 faixas.

"Essas faixas reúnem os nossos códigos, cada uma delas com a colaboração de outros MCs (Mestres de Cerimônia), encontro de cenas, conexões inter-estaduais e  internacionais. A capa do nosso EP também traduz de forma visual a nossa ideologia com uma bela Mandala feita pela artista visual Ju Neves", sintetiza Pleno.

(Confira a matéria sobre o Ritual Sonoro e o trabalho artístico na rádio West Side e em todas as plataformas)

Ludi Um encerra a noite cantando o seu mais recente trabalho, o single Perneta, entre outras marretadas sonoras


Foto: Marcos Camargo 

A noite se encerrou com a apresentação do artista carioca Ludi Um, diretamente do Morro do Dendê (RJ), que cantou, entre outras músicas de sua discografia, o single "Perneta", projeto que integra o EP "HiperbólicoZungu", com previsão para lançamento oficial no fim deste ano.

"Um dos objetivos do Na Encruza é começar a ocupar o setor comercial sul para além dos horários de trabalho e com atividades de lazer. É um espaço central da cidade, onde a maior parte dos ônibus chega, seja perto ou na rodoviária e que não é valorizado, nem ocupado. E queremos mudar essa realidade", explica o artista.

Eletrolivre e No Setor


Foto: Marcos Camargo 

O Eletrolivre é um projeto que visa reunir artistas, produtores e entusiastas da música em um espaço colaborativo e criativo para pensar a fruição do bem imaterial e exercer o papel social da música e toda sua cadeia produtiva. Localizado no coração do Brasil.

O Hub de artistas oferece uma plataforma para que os talentos locais sejam descobertos e promovidos, além de proporcionar um ambiente propício para a criação e produção musical e ocupar afetivamente as ruas.

Já o Instituto No Setor é uma plataforma de transformação do centro de Brasília por meio da ocupação e da ressignificação do espaço público. Ainda enquanto coletivo cultural, o No Setor nasce no início de 2018, trazendo o Setor Carnavalesco Sul como o seu projeto inaugural.

Atua nas áreas de cultura, gestão comunitária e impacto social em parceria com a Casa da Cultura da América Latina, a Universidade de Brasília (UnB), a Administração Regional do Plano Piloto, o Museu Correios, o SESC Presidente Dutra, a Associação Comercial do Distrito Federal (ACDF), o Venâncio Shopping, entre outras organizações.

Cleber Negão - Jornalista

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