Lettié ressurge com “Catnip”, um EP sobre dor e renascimento sensível

Inspirado em seus gatos e no recolhimento emocional vivido após a pandemia, o novo EP "Catnip" mergulha em beats delicados, cura íntima e texturas que falam de recomeços.

Depois de um silêncio carregado de significado, a artista da Baixada Fluminense, Lettié, retorna com um novo trabalho que marca sua reentrada no cenário musical: o EP “Catnip”, lançado hoje, dia 20 de junho nas plataformas digitais.

Composto por quatro faixas autorais, incluindo o já lançado single “Manda e Desmanda”, o EP mergulha em sonoridades que transitam entre o neosoul, o R&B e experimentalismos da brasilidade, costurando um universo íntimo com produção minimalista e emocionalmente carregada.

Uma pausa necessária

Afastada da música desde o lançamento de seu primeiro EP, Lettié explica que a pausa veio após uma fase intensa vivida no pós-pandemia:

“Um combo de coisas me fez resolver parar um pouco. Eu estava passando por muitas mudanças, principalmente internamente. Vivi uma fase muito intensa, eufórica, no pós pandemia, onde eu lanço meu primeiro EP, faço meus primeiros shows. Só que depois de um tempo nesse ritmo eu vi que precisava me aquietar, me conhecer, cuidar da minha cabeça, da minha energia. A carreira musical, artística como um todo, é muito desafiadora, principalmente sem grandes recursos. Se você não se conhece profundamente, se não entende o seu propósito, fica muito difícil de continuar. E eu precisei desse tempo pra entender o meu ".

Longe dos holofotes, ela se dedicou a olhar para dentro, entender suas dores e resgatar aquilo que realmente fazia sentido. Foi nesse tempo de recolhimento que a música voltou a bater, não mais como obrigação ou performance, mas como refúgio, reencontro e oportunidade de cura.

“Eu precisei reaprender a amar a música e a me amar. Esse EP representa o resultado de todo esse processo. A fuga me fez querer escrever sobre a minha casa, sobre os meus gatos, meus medos, meus sonhos. E por fim me fez querer sair desse exílio e encarar a vida de novo, agora com mais intenção e propósito.”

Foto: Wander Scheeffër

Um nome que guarda metáforas

O título Catnip carrega um simbolismo afetivo e sensorial. A escolha não foi à toa: Lettié encontrou na relação com seus gatos uma metáfora perfeita para o momento que viveu durante o processo de criação do EP.

“Eu queria muito referenciar meus gatos no EP, já que eles foram minhas principais companhias durante esse período e inclusive me inspiraram a escrever sobre eles”, explicou a artista.

A erva catnip, conhecida por provocar alívio e euforia nos felinos, acabou se tornando também uma representação do que Lettié deseja despertar em quem ouve suas músicas. “Catnip é uma erva que acalma, que alegra os gatos. E eu acho que é isso que eu quero causar com essas músicas: paz e encantamento. Espero que os ouvintes fiquem tão animados com as minhas músicas como os meus gatos ficam com o catnip deles”, informou a artista.

Foto: Wander Scheeffër

Atmosferas íntimas, cicatrizes sonoras

Cada faixa do EP é um fragmento emocional, um recorte de quem encontrou na música uma forma de transmutar o recolhimento em arte. Lettié compartilha como foi dar forma ao primeiro single, “Manda e Desmanda”:

“Foi a primeira faixa a ser escrita. Eu levei alguns meses maturando a letra, testando melodias, até que cheguei num resultado que gostei e chamei o Ivan Lima pra pensar os arranjos.”

O processo se desenrolou de forma colaborativa, reunindo artistas e produtores que ajudaram a transformar a ideia inicial em música.

“Junto dele entrou também a Gabi Barbosa, e então montamos uma demo que foi pras mãos do Enzo Dicarlo. Daí juntos, eu, Ivan e Enzo, fechamos a composição, os arranjos, a produção como um todo.Esse processo foi bem parecido em todas as faixas, mas contando também com outros músicos nos arranjos e instrumentais como Yaramay, Matheus Vieira, Adieu, Victor Kroner, Carlo e Gabriel Suli.”

De volta, mas de outro jeito

“Catnip” marca o retorno de Lettié e o surgimento de uma nova versão da artista, mais consciente de suas feridas, e mais disposta a transformá-las em som.

Após um período de introspecção, a artista da Baixada Fluminense ressurge mais consciente de sua trajetória, com desejo de experimentar novos caminhos estéticos e sonoros.

“Minha visão para o futuro próximo é lançar mais coisas, principalmente singles, e testar novas possibilidades, tanto musical quanto esteticamente. Quero amadurecer meu estilo, minha identidade”, afirma Lettié.

A artista também adianta que a faixa de abertura do EP deve chamar atenção logo de início. “‘Perigo Noturno’ é muito especial pra mim. Lancei até um trecho do instrumental no meu Instagram. Acho que vai ficar na cabeça e no coração de todo mundo”, conclui.

“Catnip” já está nas plataformas digitais. Um reencontro com a arte, no tempo certo, e com a sensibilidade à flor da pele.
Por Mariane Jardim.