Favela Vive 6 é lançado no Dia do Rap Nacional
Com participações de ADL, MC Carol, DeXter, 8° Anjo, Borges, DK47 e Sandra de Sá, trabalho divulgado nessa quarta-feira (06/08) é um manifesto contra a opressão e o sistema vigente, um grito coletivo de protesto e expressão crítica e artística.

O Favela Vive 6, trabalho audiovisual e artístico desenvolvido por artistas e moradores de comunidades em todo o Brasil, foi lançado nessa quarta-feira (06/08) em todas as plataformas.
A data do lançamento da sexta edição do projeto, reconhecido em todo o mundo, coincide com o Dia do Rap Nacional, celebrado anualmente em 06 de agosto, conforme reconhecido pela Lei n° 13.201/2008, aprovada pela Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp).
A data simboliza a resistência, a manifestação do pensamento artístico crítico, o protesto em forma de poesia verbal, a ascensão política, econômica e social dos povos brasileiros e universais associados à cultura hip-hop e seus quatro elementos (MC, DJ, Grafitti e Break-Dance).
Nessa toada, o trabalho Favela Vive 6, expressa e reflete exatamente essa luta e construção diárias do movimento negro, apoiado por manifestações culturais e artísticas como o rap, o trap, o funk, o soul, o hip-hop em sua essência, em suas raízes, suas tradições e em suas ramificações.
“Escrever minha parte ou ser uma das partes na cena do crime. Hoje minha história é do favela que nem sempre vive. Que Deus me livre de alguém ter que lavar meu sangue na calçada, e essa ser a cena em que eu me encontro. Dedos entrelaçados atrás da cabeça, eu só carrego a minha cruz, mas eu morro se puxo. Sai pra defender meu pão e morri sem defesa, por ser do rap meu único movimento brusco”, canta em tom de protesto Lord ADL, iniciando as rimas do Favela Vive 6.
“Em tantos lugares a história se repete. Mãe de quatro filhos, dois morreu no crime e deixaram filhos, e ela cuida tipo mãe de sete. Cinco minutinhos de beco adentro tu muda teu ‘mindset’. Quantos aqui morreram pobre, pobre, pobre. E trabalharam bem mais de quatorze horas. Nunca tivemos primo rico, rico, rico. Nossas avós trabalharam até senhoras", continua ADL, rimando em cima de uma batida tensa, que remete ao clima de insegurança em que as comunidades periféricas hoje vivem diante a um aparato opressor do Estado, em muitos casos, genocida.
“Eu já te contei minha história, hoje eu conto as interrompidas. Muitas baixas nessa guerra de gente que não é envolvida. De gente que ainda apanha pela estigma, caso do Amarildo ainda é um enigma. Linhas tristes, também queria que fosse a última, favela enferma. A morte é uma amiga íntima. O rap informa a visão que não tá nas páginas. Última forma, nós já tá cansado de lágrimas. Favela Vive!”, grita ADL.
Mc Carol traz o universo do funk e a realidade periférica na visão feminina com propriedade e força
Com voz potente, rimas precisas, realistas e ácidas a funkeira carioca Mc Carol, cria de Niterói (RJ), representa o universo feminino periférico por meio de reflexões e rimas cirúrgicas, precisas e realistas, que expressam com força e propriedade a realidade de milhões de mulheres que residem em periferias, subúrbios e favelas.
"Direto de Niterói, o vulgo é Carol Bandida. A mídia me critica, diz que eu canto baixaria. Mas é no Planalto que eles fodem o trabalhador. Essa escala 6x1 pra mim que é uma putaria. Seu namorado é um otário, ele bateu na ex-‘mina’. Te trai, aqui na favela ele não usa camisinha. Engravidou a vizinha e nunca paga a pensão, obrigando a coitada a criar o filho sozinha”, rima a funkeira.
“Equipe pé no chão, nós viemos lá de baixo. Não aceita covardia, muito menos esculacho. Tu não vai ver ninguém tirando minha autoestima, nem muito menos eu abaixo a cabeça pra macho. Pra nós nunca foi fácil, vivendo além da loucura. Depois tu me pergunta porque minha vó tá maluca. Meteu a mão no médico que veio cheio de desculpa, depois de ver o filho morto pelo corredor da UPA”, desabafa a funkeira, mostrando versatilidade também na batida do rap.
Mc Carol concluiu sua participação com firmeza, conceito e prestígio no movimento. “Eles odeiam nossa cor, nós odiamos racista. Vini Jr, lá na liga, tu vê que ninguém liga. Aqui as ‘mina’ é terrestre, cuidado onde tu ‘pisa’. Se mexer com uma de nós, eu acabo com a tua vida”, decreta a Mc, com ironia, sarcasmo, tom crítico e figura de linguagem.
DeXter, o 8° Anjo, expõe toda a originalidade, realidade e propósito do rap e da cultura hip-hop
Carregando o peso de uma trajetória de vida resgatada pelo rap e pela cultura hip-hop, DeXter, o 8° Anjo surge unificando gerações e ratificando o propósito e o peso ancestral da sexta edição do projeto Favela Vive.
“Numa noite fria e tenebrosa daquelas peças na mão, eu infringi o sétimo mandamento, um péssimo momento. Reflexo de um tempo onde o nada era negado, e minha busca atrás do sonho valia mais que minha vida. Era tudo que eu queria, depois vi irmãos sendo tratados como bicho. Entre eles, eu, jogado ali no canto, o plano era matar o Marquinhos”, expõe o rapper paulista, um dos mais expressivos e influentes do cenário brasileiro.
Sobre o resgate da sua vida por meio do rap e da cultura hip-hop, DeXter relata a sua experiência com nitidez e propriedade.
“Renasci como o Oitavo Anjo, condenado eternamente por quem me rouba todo santo dia, eles não tem decência. Sociedade não perdoa criminoso que roubou por sobrevivência, mas idolatra, mata e morre pra ter um na presidência. As leis das ruas não valem no Planalto, pode ter certeza disso. Se valesse eram todos esses putos. Meio dia e meia nas ideias no campinho, fihos da terra prometida onde alguns cercaram tudo. Se alto nomearam donos, não dividiram pão, ratos famintos”, denúncia DeXter.
O Favela Vive 6 traz ainda as participações de Borges, DK47 e Sandra de Sá.
Cleber Negão - Jornalista
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